Lava Jato na imprensa
Eu, Diogo, conto um episódio antigo (tenha paciência, por favor), mas acrescento um fato inédito que revela a promiscuidade entre a verba de publicidade da Petrobras e uma parcela da imprensa.Imagem do relatório da Operação Monte Carlo
Eu, Diogo, conto um episódio antigo (tenha paciência, por favor), mas acrescento um fato inédito que revela a promiscuidade entre a verba de publicidade da Petrobras e uma parcela da imprensa.
Em primeiro lugar, o episódio antigo, uma coluna que publiquei na Veja em setembro de 2006, em pleno escândalo dos aloprados:
“Fim de agosto. Base aérea de Congonhas. Lula se encontra com Domingo Alzugaray, dono da IstoÉ. O encontro está fora da agenda presidencial. Alzugaray se lamenta dos problemas financeiros da revista. Lula pergunta como pode ajudá-lo. Alzugaray sugere o pagamento imediato de uma série de encartes encomendados pela Petrobras. Valor total: 13 milhões de reais. Lula promete se interessar pelo assunto. Duas semanas depois, a IstoÉ publica a matéria de capa com os Vedoin, incriminando os opositores de Lula. Quem relatou o encontro confidencial entre Lula e Alzugaray foi o editor da sucursal brasiliense da IstoÉ, Mino Pedrosa. E quem o relatou a mim foi o PFL. Creio que seja verdade. Creio em tudo o que contam de ruim a respeito de Lula. O que posso garantir é que a imprensa lulista funciona assim mesmo. O presidente manda. O jornalista publica. O contribuinte paga”.
Agora conto o fato inédito, que só me foi repassado sete anos mais tarde.
Durante a Operação Monte Carlo, a PF apreendeu um vídeo realizado por um araponga dois dias depois da publicação daquele meu artigo. Nele, o jornalista da IstoÉ, Mino Pedrosa, comentava minha coluna e confirmava o encontro entre Lula e o dono da revista.
Cito o relatório da PF:
“MINO mostra-se preocupado com seu futuro na ISTOÉ em função de um texto publicado na VEJA por DIOGO MAINARDI sobre um encontro entre o dono da ISTOÉ e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Este encontro teria sido viabilizado por MINO, segundo ele próprio confidencia”.
Dois meses depois do encontro entre Lula e o dono da IstoÉ, a CPI dos Sanguessugas revelou que o chefe dos aloprados, Hamilton Lacerda, trocara dezenas de telefonemas com o diretor de Marketing da Petrobras, Wilson Santarosa.
Na época, escrevi o seguinte:
“Analisando os telefonemas de Hamilton Lacerda, descobri que ele recebeu também chamadas do celular de Dudu Godoy. Dudu Godoy é um dos sócios da Quê, agência de propaganda que atende a Petrobras. Ele foi um dos marqueteiros da campanha de Lula, em 1998, e fez carreira em Campinas, assim como Wilson Santarosa, que presidiu o sindicato dos petroleiros local. De maio a setembro de 2006, a IstoÉ veiculou 58 páginas de anúncios da Petrobras. Pelos dados do Ibope Monitor, foram 2,6 milhões de reais investidos pela estatal na revista. Carta Capital lucrou ainda mais, proporcionalmente à sua tiragem. Foram 789.000 reais”.
Se você chegou até aqui, peço desculpas. Não tenho o menor interesse em me vangloriar por artigos escritos quase dez anos atrás. Só quero dar essa pista aos investigadores da Lava Jato, que leem regularmente O Antagonista.
Bom domingo para você e para eles também.
Imagem do relatório da Operação Monte Carlo
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