A Copa América e a premissa falsa de Doria
Jair Bolsonaro não está interessado na saúde da população e o seu desprezo pela vida é repugnante. Mas político nenhum está muito preocupado, de fato, se você pegar Covid. Mesmo os que se contrapõem ao negacionismo sociopata. Veja-se o caso do governador João Doria. Ele quer eleger-se presidente da República como se cumprimento de obrigação fosse ação de estadista. Peço desculpas aos outros habitantes destes lamentáveis trópicos que pensam o oposto, mas providenciar vacinas contra a Covid ou qualquer outra doença, para mim, não é motivo de aplauso nenhum. Faz parte do rol de tarefas para as quais elegemos governantes...
Jair Bolsonaro não está interessado na saúde da população e o seu desprezo pela vida é repugnante. Mas político nenhum está, de fato, mesmo os que se contrapõem ao negacionismo sociopata. Veja-se o caso do governador João Doria. Ele quer eleger-se presidente da República como se cumprimento de obrigação fosse ação de estadista. Peço desculpas aos outros habitantes destes lamentáveis trópicos que pensam o oposto, mas providenciar vacinas contra a Covid ou qualquer outra doença, para mim, não é motivo de aplauso nenhum. Faz parte do rol de tarefas para as quais elegemos governantes. Se Jair Bolsonaro não a cumpre, quem a cumpre não é especial por causa disso.
O marketing político feito a partir da vacina Coronavac é indecente. Comprar imunizantes não torna ninguém especial, mas apenas normal. Num país de anormalidades, é preciso reconhecer o normal, sem dúvida. Mas não dá para transformar o normal em especial. É uma operação desonesta. Nós pagamos os políticos para fazerem a coisa certa.
João Doria fez o normal em relação às vacinas, mas quando outras medidas necessárias são antipáticas, aí a questão fica relativa. Quem mora em São Paulo, em especial na capital, sabe que toque de recolher e horário de fechamento de bares são para infectologista da OMS ver. Nos bairros ricos, em especial, a avacalhação é grande — e a polícia do governador finge que não vê. Assim como não vê o que ocorre nas ruas de comércio popular. Porque é eleitoralmente antipático levar as restrições a ferro e fogo, ao contrário da propaganda da vacina. Ou seja, a ciência só manda até certo ponto.
Não me causa supresa, portanto, a atitude de João Doria em relação à Copa América. Ele apoia a realização do torneio no Brasil, apesar de isso emitir um mau sinal à população. Disse João Doria: “Nós temos em São Paulo autorizado o campeonato local, temos o campeonato sul-americano, temos três divisões de campeonatos mais jovens, tem a segunda divisão do Paulista, temos a Copa do Brasil e o Brasileirão. Se tivermos que ter uma atitude coerente, temos que parar o futebol em São Paulo. Agora, criminalizar especificamente a Copa América porque veio fruto de um entendimento do negacionista de Brasília é nós perdemos o bom senso.”
Parece uma fala razoável, mas a premissa é falsa. Não está certo autorizar campeonatos de qualquer espécie neste momento, porque, além de colocar em risco os seus participantes, reforça a falsa ideia junto à população de que a pandemia, afinal de contas, não é tão grave assim. Campeonatos sem público não impedem aglomerações em bares e casas de amigos, seja para assistir a partidas ou para comemorar vitórias — e quando as conquistas são grandes, aglomera-se também na rua. Está errado. Com a premissa certa, fica claro que a Copa América não deveria ser realizada no Brasil (ou em qualquer outro lugar, como entenderam os nossos vizinhos).
Suspender campeonatos, contudo, é atitude antipática demais para as ambições de João Doria, um homem de marketing. É o que ele deveria fazer, no entanto, se ligasse mesmo para a ciência. Você, cidadão, é que deve preocupar-se com a sua própria saúde, o resto é conversa mole. E lembre-se: comprar vacinas é apenas obrigação de quem você elegeu.
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