Auditoria do TCU destrói tese vazajatista contra Moro e a Lava Jato
O Antagonista

Auditoria do TCU destrói tese vazajatista contra Moro e a Lava Jato

avatar
Claudio Dantas
8 minutos de leitura 17.01.2022 10:50 comentários
Brasil

Auditoria do TCU destrói tese vazajatista contra Moro e a Lava Jato

Como O Antagonista registrou dias atrás, Bruno Dantas (foto) e Lucas Furtado atropelaram normas internas e pareceres técnicos do TCU para explorar indevidamente o contrato firmado por Sergio Moro com a Alvarez & Marsal, após o cumprimento da quarentena do serviço público. O motivo agora está claro. A auditoria do tribunal simplesmente destruiu a tese vazajatista...

avatar
Claudio Dantas
8 minutos de leitura 17.01.2022 10:50 comentários 0
Auditoria do TCU destrói tese vazajatista contra Moro e a Lava Jato
Foto: TCU

Como O Antagonista registrou dias atrás, Bruno Dantas (foto) e Lucas Furtado atropelaram normas internas e pareceres técnicos do TCU para explorar indevidamente o contrato firmado por Sergio Moro com a Alvarez & Marsal, após o cumprimento da quarentena do serviço público.

O motivo agora está claro.

A auditoria do tribunal simplesmente destruiu a tese vazajatista de que Moro e a Lava Jato causaram prejuízos à Odebrecht, ou que o ex-juiz se beneficiou de informações privilegiadas, incorrendo nas práticas de revolving door e lawfare.

“Ao contrário, o modelo de negócio adotado pelo Grupo (Odebrecht), baseado no cometimento de fraudes, corrupção e ‘caixa 2’, por muito mais de uma década, é que o levou à situação atual de recuperação judicial e a própria condição de investigado”, diz a auditoria, ressaltando a atuação no caso de todo o sistema de persecução penal e fiscalização e controle do país.

“A CGU/AGU, o TCU, o CADE, a Polícia Federal, a CVM, a Petrobras e a Receita Federal do Brasil, a partir de suas próprias investigações e elementos compartilhados, também se utilizando dos instrumentos legais, chegaram à conclusão de que houve o desvio de bilhões de reais por meio de fraudes em licitações públicas envolvendo as empresas cartelizadas.” 

Segundo a área técnica, os valores dos danos calculados pelo TCU, aliás, são muito maiores do que os montantes apurados pelo MPF até hoje, ampliando a própria dimensão do petrolão. Para os auditores, negar o exercício de tais competências desses órgãos, e as consequências decorrentes das investigações, seria atentar contra a própria Constituição Federal e legislação vigentes”.

Ou os servidores públicos daqueles órgãos também são responsáveis pela quebra da empresa envolvida em fraudes e corrupção? “Não se trata, portanto, de perseguição ou abuso dos instrumentos jurídicos contra o Grupo Odebrecht, mas da assunção das consequências dos ilícitos cometidos.”

A verdade, destaca a auditoria do TCU, é que sem a atuação da Lava Jato e dos demais órgãos citados “não se conheceria o esquema cartelizado, não teriam sido realizadas as investigações nem teriam sido obtidos os elos para identificação dos responsáveis e para quantificação dos montantes desviados”.

“Caso não houvesse as investigações por aqueles órgãos, a situação financeira do Grupo Odebrecht e dos demais grupos empresariais possivelmente seria melhor que a atual, em detrimento de outras empresas idôneas e da eficiência do mercado, de uma forma geral. O cartel continuaria atuando para fraudar os procedimentos licitatórios e manipular preços, projetos inviáveis continuariam a ser construídos com dinheiro público, por preços muito acima do mercado, nenhum responsável teria sido identificado e nenhum valor teria sido ressarcido. O prejuízo continuaria sendo do erário público, das empresas estatais e dos acionistas. Certamente, essa não é a melhor alternativa.”

Segundo a auditoria, não se está fazendo “defesa cega dos atos praticados pelos integrantes da extinta força-tarefa”, mas “é preciso esclarecer que as informações, documentos e os valores obtidos por meio dos acordos de leniência e colaboração são frutos do trabalho que tais autoridades do Poder Público exerceram desde o início daquela Operação e que foram, sucessivamente, compartilhadas e utilizadas por outras instituições que compõem a Administração Pública”.

“A exma. ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, homologou os 77 acordos de colaboração dos executivos do Grupo Odebrecht, os quais confirmaram as fraudes, a operação de caixa 2, o pagamento das propinas, os prejuízos ao erário e o modelo de negócio adotado pelo Grupo por 30 anos.”

As acusações contra Moro e os procuradores são parte, claro, de uma estratégia de assédio judicial direcionado, pois não se tem conhecimento de nenhuma reclamação contra servidores e autoridades das demais instituições citadas. Investigar e punir os responsáveis por fraudes é obrigação e não uma opção.

PROVA ILÍCITA

Em outro trecho do relatório, inexplicavelmente ignorado por Bruno Dantas, a auditoria ainda repisa as críticas ao uso dos supostos diálogos hackeados, que nunca poderiam ser considerados “meios lícitos de prova”.

O documento relembra que a 10a Vara Federal Criminal do Distrito Federal, com base em laudo da Polícia Federal, se pronunciou no sentido da “impossibilidade de verificação da integridade das mensagens ‘hackeadas’, bem como pela impossibilidade de utilização de tais diálogos para instrução de outros procedimentos sob pena de perpetuação da ilicitude da prova”.

Além de provas imprestáveis, os diálogos não evidenciam qualquer ilícito por parte dos ex-integrantes da força-tarefa ou do ex-juiz contra a Odebrecht. Frases foram retiradas do contexto e montadas de forma a sustentar a tese absurda levantada pela inicialmente pela defesa de Lula.

“Os relatórios encaminhados pelo STF trazem transcrições de supostos diálogos de forma incompleta e fora de ordem cronológica entre procuradores da OLJ em Curitiba e o ex-juiz Sergio Moro; não há como atestar a própria imparcialidade de tais relatórios tendo em vista a ausência de informações sobre a contratação do perito que os elaborou; e os relatórios podem ter sido elaborados e ordenados de forma a conter os supostos diálogos que seriam importantes ao representante legal para o qual foram dirigidos, como eventual estratégia de defesa nos processos em trâmite no STF.”

ALVAREZ & MARSAL

A auditoria, corroborada por laudo da área de Supervisão do TCU, também desconstrói de forma didática a narrativa de que Sergio Moro teria atuado “dos dois lados do balcão”, ajudando a quebrar a Odebrecht para depois ser contratado pela empresa responsável por sua recuperação judicial.

O relatório traz vários outros casos de ex-agentes públicos que ocuparam altos cargos no governo e depois foram contratados pela iniciativa privada, como ocorreu com a ex-AGU Grace Mendonça.

Após atuar em seis acordos de leniência com empresas investigadas pela Lava Jato, inclusive a Odebrecht, a ex-ministra passou para o outro lado do balcão, passando a trabalhar em programas de integridade no mercado corporativo. Assim como Moro, Grace também respeitou o prazo de quarentena, “razão pela qual há que se adotar um tratamento isonômico entre os dois ex-ministros de Estado”.

A auditoria também ressalta que Moro não foi contratado pelo ramo de administração judicial da Alvarez & Marsal no Brasil, mas pela sede americana na área de investigações e disputas — sem qualquer relação com o caso Odebrecht.

“A defesa da A&M logrou êxito em esclarecer que a contratação do consultor se deu por pessoa jurídica de seu grupo econômico que atua no ramo de investigações e disputas (a partir de solicitação do líder dessa área, domiciliado nos Estados Unidos), e não no ramo de administração judicial (no Brasil). A empresa em questão também enfatizou que o Sr. Sérgio Moro não é sócio de qualquer outra empresa que atue sob a marca desse grupo econômico, tendo sido contratado tão somente na qualidade de consultor.”

Além dos esclarecimentos sobre o regime de contratação de Moro, a Alvarez & Marsal ainda encaminhou ao Tribunal o termo de distrato firmado, contendo a “cláusula de conflito de interesses envolvendo o Grupo Odebrecht”.

A análise da área técnica apontou total “falta de consistência” da representação e de mínima “conexão lógica” entre os fatos, inclusive do ponto de vista cronológico.

acordo de leniência da Odebrecht foi assinado em dez/2016 (e homologado pelo STF no mês seguinte), e a contratação do sr. Sergio Moro pela A&M Disputas & Investigações se deu somente em nov/2020 (quase 4 anos depois). Antes disso, o ex-magistrado atuou ainda como Ministro da Justiça e da Segurança Pública entre jan/2019 e abr/2020, quando deixou o cargo, após desavenças com o chefe do Poder Executivo, conforme é público e notório. Admitir que o ex-magistrado tenha passado por situações de tamanho desgaste pessoal e emocional com o objetivo de auferir ganhos financeiros muito tempo após o acordo de leniência homologado (pela 5ª CCR/MPF e pelo STF também), e: (i) sem que a Odebrecht tivesse pedido recuperação judicial (o que ocorreu 3 anos depois); (ii) sem que se soubesse qual escritório seria o escolhido como administrador judicial (3 anos depois); e (iii) sem saber se haveria interesse na prestação de seus serviços de consultoria (4 anos depois); torna a versão absolutamente improvável, para não dizer impossível.”

Por fim, a auditoria ressalta que não há nos autos indícios de dano ao erário ou de ato irregular que envolva a gestão de recurso público no caso, não cabendo ao TCU, portanto, qualquer avaliação de conduta da Alvarez & Marsal. Bruno Dantas deveria ter arquivado o caso sumariamente, mas preferiu ignorar os fatos. Agora, precisa explicar a todos o porquê.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Nunes sanciona fim do limite de barulho para shows e eventos em São Paulo

Visualizar notícia
2

Galípolo botou o dólar na sala

Visualizar notícia
3

EUA bombardeiam alvos Houthis após míssil atingir Tel Aviv

Visualizar notícia
4

“Toda a Alemanha está com o povo de Magdeburg”

Visualizar notícia
5

Quando o pensamento miserável encontra guarida na Justiça

Visualizar notícia
6

Imprensa alemã divulga imagens do autor de ataque em feira de Natal

Visualizar notícia
7

Governo exonera agente da Abin investigado por espionagem ilegal

Visualizar notícia
8

Leonardo Barreto na Crusoé: A curiosidade de Deus

Visualizar notícia
9

Toffoli garante alívio nas dívidas do Rio

Visualizar notícia
10

Acidente com ônibus e carreta deixa mais de 30 mortos em Minas

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

"Podem revirar tudo, não irão achar nada", diz Sóstenes

Visualizar notícia
2

Real é a moeda que mais perdeu valor em 2024

Visualizar notícia
3

Wicked: Para Sempre - O que esperar da continuação do musical?

Visualizar notícia
4

J.K. Rowling celebra cinco anos de ativismo em defesa das mulheres

Visualizar notícia
5

Concurso Público do INSS: 250 vagas com salários até R$ 14 mil

Visualizar notícia
6

Meirelles nega narrativa do ataque especulativo

Visualizar notícia
7

Lobo-marinho "Joca" vira atração em Ipanema

Visualizar notícia
8

Réveillon Rio 2025: Ivete Sangalo, Anitta, Caetano e show de luzes inédito

Visualizar notícia
9

Crusoé: Bolsonaro tentou golpe? Resposta varia com eleitorado

Visualizar notícia
10

Golpes digitais nas festas de Fim de Ano: Como identificar e evitar armadilhas

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Bruno Dantas Cristiano Zanin Emílio Odebrecht JULIO MARCELO Lava Jato Marcelo Odebrecht Odebrecht TCU
< Notícia Anterior

PF investiga se 'Aquaman' do PCC também agia na Espanha

17.01.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Bolsonaro, sobre casais gays: "Vai ver depois quando deixar esta Terra"

17.01.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Claudio Dantas

Claudio Dantas é diretor-geral de Jornalismo de O Antagonista. Com mais de duas décadas cobrindo o poder, já atuou nas redações de EFE, Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e IstoÉ. Ganhou os prêmios Esso, Embratel e Direitos Humanos. Está entre os jornalistas mais influentes do Twitter e venceu três vezes o iBest de melhor veículo de política.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Educação financeira desde a infância: Conheças dos benefícios

Educação financeira desde a infância: Conheças dos benefícios

Visualizar notícia
Gilmar Mendes participa até de inauguração de rodovia em MT

Gilmar Mendes participa até de inauguração de rodovia em MT

Visualizar notícia
Mais de 35 mil pessoas ainda estão sem luz em São Paulo

Mais de 35 mil pessoas ainda estão sem luz em São Paulo

Visualizar notícia
Alerta do Inmet para chuvas intensas: Veja as regiões

Alerta do Inmet para chuvas intensas: Veja as regiões

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.