Claudio Dantas reuniu num debate inédito o ex-coordenador da Lava Jato Deltan Dallgnol e seu sucessor, o procurador Alessandro de Oliveira. No bate-papo, os dois relatam os bastidores da transição.
Eles também comentam a crise que levou à debandada do grupo da Lava Jato em São Paulo, mas garantem que isso não se repetirá no Paraná.
“Aqui no Paraná, absolutamente. Se existe comentário nesse sentido é sem nenhum fundamento. Já me reuni com o pessoal e pude perceber que todos continuam bastante empolgados com a atividade e não há mínimo indicativo de alguém querendo se retirar”, garante Oliveira.
O novo coordenador da Lava Jato reitera sua posição de “grande defensor das estruturas de forças-tarefa para crimes complexos” e avisa que vai buscar uma ampliação do contingente, diante do trabalho que ainda precisa ser feito.
No debate, Dallagnol reflete sobre a polêmica criação da fundação da Lava Jato, que ia gerir R$ 2,5 bilhões obtidos num acordo com autoridades dos EUA.
“Foi uma quebra de paradigma, uma situação inédita. A gente lidou com muitas situações inéditas na Lava Jato e sempre buscou a melhor solução jurídica. Seguia modelos internacionais. Hoje, eu teria feito diferente. Teria chamado outros órgãos para participar e fortalecer essa solução para ela ficar mais protegida contra críticas e a destruição que acabou acontecendo.”
Assim como Dallagnol, Oliveira se diz favorável ao cumprimento das penas após condenação em segunda instância. E diz que a mudança promovida pelo Supremo gera prescrição dos crimes, o que é “uma anomalia”. “Um sistema que convive com tantas possibilidades recursais e reanálise da mesma causa se choca com a ideia de justiça.”
Os dois também criticam a mordaça que vem sendo imposta aos integrantes do MP nas redes sociais e na imprensa, assim como a ideia lançada por Dias Toffoli de instituir uma quarentena de oito anos para juízes e procuradores que queiram deixar a carreira para se lançar na política.
“Sinto uma certa tristeza institucional cada vez que vejo uma limitação ao livre direito de manifestação dos servidores, especialmente membros do Ministério Público. É como se tivéssemos uma menor cidadania. Não poder se manifestar ou se candidatar”, afirma Oliveira.
Dallagnol vê nessas ações um “espírito de retaliação, de vingança” e uma postura “inadequada numa democracia”. “Como sociedade, temos que amadurecer.”
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