Paulo Guedes, o ex-super ministro
Em meio ao terremoto na economia causado pela Covid-19, a relação entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, apresentou uma grande rachadura. Ao definir a sua reeleição como prioridade, Bolsonaro passou a apostar em programas sociais, aumentando...
Em meio ao terremoto na economia causado pela Covid-19, a relação entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, apresentou uma grande rachadura.
Ao definir a sua reeleição como prioridade, Bolsonaro passou a apostar em programas sociais, aumentando o gasto público, e desautorizou publicamente o ministro, que buscou cortar despesas para financiar os projetos do presidente.
Ao longo do ano, Guedes perdeu espaço para ministros que defendem mais gastos, como o seu ex-assessor Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, e o general Walter Braga Netto, chefe da Casa Civil, que tentam reeditar o PAC e lançaram um novo Minha Casa Minha Vida com apoio de empresários da construção civil.
Guedes também viu a debandada de auxiliares da pasta.
Em um mesmo dia, abandonaram o barco os secretários de Desestatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Paulo Uebel.
A reclamação foi a de que as privatizações e a reforma administrativa não saíam do papel. O principal motivo era a falta de interesse do presidente da República.
Ao confirmar a debandada na equipe, Guedes deixou evidente a sua insatisfação com o rumo da política fiscal e mandou um recado a seus colegas que tentavam — e ainda tentam — convencer Bolsonaro a “pular a cerca” da responsabilidade fiscal:
“Vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment.”
Neste ano também deixaram o governo Rubem Novaes (presidente do Banco do Brasil), Caio Megale (diretor de programas da Secretaria de Fazenda) e Mansueto Almeida (secretário do Tesouro Nacional).
A pressão por um modelo populista ganhou força com o aumento de popularidade do presidente entre os mais pobres, após o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 em razão da pandemia de Covid-19.
Para manter a chance de reeleição, Bolsonaro buscou alternativas financeiras e brechas constitucionais para a criação do programa Renda Brasil, a versão bolsonarista e turbinada do Bolsa Família.
O governo nem sequer disfarçou a intenção de elevar os gastos. O senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um, foi explícito em uma entrevista:
“O Paulo Guedes vai ter que dar um jeito de arrumar mais um dinheirinho para a gente dar continuidade a essas ações que têm impacto social e na infraestrutura.”
Em agosto, Bolsonaro desautorizou Guedes e enterrou sua proposta de extinguir o abono salarial, a fim de abastecer o Renda Brasil.
“A proposta com a qual a equipe econômica apareceu para mim não será enviada ao Parlamento. Não posso tirar dos pobres para dar para paupérrimos”, afirmou o presidente.
O próprio ministro admitiu depois que as declarações de Bolsonaro foram um “carrinho”, uma “entrada perigosa” que poderia ser pênalti.
Em setembro, Guedes protagonizou outra cena constrangedora.
Durante coletiva, o ministro da Economia foi interrompido pelo líder do governo Ricardo Barros e literalmente retirado do local pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo Luiz Eduardo Ramos. Guedes falava da criação de tributos alternativos para poder desonerar a folha. A tutela do Planalto sobre o ministro da Economia ficou evidente.
“Queremos desonerar, queremos ajudar a buscar emprego, facilitar a criação de empregos. Então, vamos fazer um programa de substituição tributária”, afirmou Guedes, antes de ser retirado.
Também em setembro, Bolsonaro e Guedes participaram de um ato, juntamente com líderes do Congresso, para anunciar que o Renda Brasil seria financiado com dinheiro de precatórios e recursos do Fundeb. A explicação foi feita pelo senador Márcio Bittar, ao lado do ministro da Economia. Diante da reação negativa do mercado, Guedes recuou e negou que essas fontes seriam usadas para o programa de Bolsonaro.
Em entrevista coletiva poucos dias depois, o ministro da Economia afirmou também que furar o teto para ganhar eleições é uma “irresponsabilidade com as futuras gerações”.
O Renda Brasil foi abortado por Bolsonaro em 15 de setembro: “Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final”.
Em anúncio nas redes sociais, o presidente ameaçou ainda dar um “cartão vermelho” para quem sugerisse a ele congelamento de aposentadorias para garantir receita ao programa.
Depois de o projeto ser jogado fora, Guedes voltou a priorizar o debate sobre a recriação de um imposto nos moldes da antiga CPMF.
A proposta é polêmica tanto para o governo quanto para o Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é contra a ideia de criar um novo imposto. No final de setembro, ele acusou o ministro da Economia de “interditar o debate da reforma tributária”.
Mais tarde, Guedes afirmou que há boatos de que Maia fez um acordo com a esquerda para não pautar as privatizações. Em resposta, o presidente da Câmara disse que o ministro “está desequilibrado”.
Após um rompimento declarado e intensa troca de farpas, Guedes e Maia selaram a paz em outubro num jantar realizado na casa do ministro do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas. É a paz dos cemitérios.
Coitado do Guedes, o ex-super ministro que se mantém no cargo graças apenas à Faria Lima.
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