Por que o sistema corrupto adora Bolsonaro
O Antagonista

Por que o sistema corrupto adora Bolsonaro

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 01.01.2021 15:08 comentários
Brasil

Por que o sistema corrupto adora Bolsonaro

Jair Bolsonaro deixou de avalizar a aquisição de vacina da Pfizer em agosto, quando a empresa fez uma proposta formal de fornecimento ao Brasil, mas não tardou em avalizar o ataque de...

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 01.01.2021 15:08 comentários 0
Por que o sistema corrupto adora Bolsonaro
Foto: Reprodução/TV Brasil

Jair Bolsonaro deixou de avalizar a aquisição de vacina da Pfizer em agosto, quando a empresa fez uma proposta formal de fornecimento ao Brasil, mas não tardou em avalizar o ataque de Kassio Marques à Lei da Ficha Limpa e a potencial absolvição de Lula.

A primeira canetada antecipou o retorno à política de condenados por crimes como estupro, homicídio, desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e tráfico de entorpecentes; mas encontrou em Luís Roberto Barroso um obstáculo: o ministro suspendeu o processo em que um candidato ficha-suja beneficiado por Kassio pedia o aval da Justiça Eleitoral para assumir o cargo de prefeito. Barroso quer que o plenário do STF delibere sobre o alcance da lei, decidindo se o prazo de 8 anos de inelegibilidade começa a contar após o cumprimento da pena, como dizia o dispositivo, ou a partir da condenação em órgão colegiado, como arbitrou “nosso Kassio” do Centrão, no momento em que o governo busca apoio parlamentar para eleger o réu Arthur Lira presidente da Câmara.

“Quem erra, tem que pagar, mas não pode pagar ‘ad aeternum’”, defendeu Bolsonaro, agora aprendiz de latim, na véspera do Natal. “Nada de mais isso.”

Antes mesmo de Ricardo Lewandowski ter ordenado a abertura dos arquivos hackeados da Lava Jato para seu padrinho político Lula e de Gilmar Mendes pautar o HC do ex-presidiário que questiona a imparcialidade do então juiz Sergio Moro, Bolsonaro também absolveu Kassio de qualquer culpa por eventual decisão da Segunda Turma do STF favorável ao petista: “Se tiver que votar para absolver o Lula, que vote!”, disse o presidente da República, avalizando indiretamente a suspeição de Moro, possível rival em 2022.

Assim como faz Lula, Bolsonaro ainda atacou o instituto da delação premiada: “Delata para criar um clima e depois não se comprova nada”, reclamou o beneficiário agora confesso de 89 mil reais em depósitos de Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar, casal atualmente preso no conforto de casa, graças ao aval de Gilmar Mendes à decisão de João Otávio de Noronha, do STJ, de tirar Queiroz da cadeia. Gilmar forma com Lewandowski e Kassio o atual trio libertador da Segunda Turma, cujos esforços somados podem garantir a Lula uma ficha limpa e a consequente elegibilidade.

Curiosamente, um ano antes, na véspera do Natal de 2019, Jair Bolsonaro havia sancionado a restrição da delação premiada aos fatos originalmente investigados, um dos jabutis inseridos no pacote anticrime proposto pelo então ministro Moro. Na ocasião, Bolsonaro e sua claque atacaram os críticos das sanções presidenciais (que também incluíram a restrição à prisão preventiva e a criação da figura do juiz de garantias) e tentaram responsabilizar exclusivamente o Congresso: “Não posso sempre dizer ‘não’ ao Parlamento, pois estaria fechando as portas para qualquer entendimento”, alegou o presidente, fingindo defender instrumentos da legislação penal que hoje abertamente ataca.

O Bolsonaro de 2019, com Moro no governo, ainda se preocupava em posar de defensor da pauta anticorrupção que ele próprio sabotava com seus acordões, sanções e interferências; enquanto o Bolsonaro de 2020, com seu filho Flávio denunciado, Moro fora do governo e o auxílio emergencial garantindo popularidade, até justifica a sabotagem, embora dê a ela um valor positivo, como sempre fez o velho establishment que ele prometeu combater.

(Se tivesse sido de Kassio o entendimento de que pagar funcionários fantasmas não é crime – podendo render sanções administrativas e civis, não penais -, Bolsonaro provavelmente o teria defendido também; mas, como o germe de despenalização da “rachadinha” veio do STJ, ele foi jogar bola em Santos e pastar o gramado da Vila Belmiro.)

Da mesma forma, pelo falseamento retórico da realidade, Bolsonaro agora chama a negligência de seu governo durante a pandemia, turbinada pelo negacionismo e pelas sabotagens das medidas de contenção da Covid-19, de “responsabilidade com o povo”, tentando fazer do atraso vacinal do Brasil em relação a outros países – inclusive na aquisição de seringas – um mérito pessoal.

Como tampouco pega bem para um presidente que se dizia aliado de Donald Trump e Benjamin Netanyahu continuar sabotando a vacinação num país com cerca de 200 mil mortos por coronavírus, enquanto EUA, Israel e dezenas de outros países vacinam cidadãos, com direito a transmissões ao vivo de autoridades tomando injeções e seus pronunciamentos sobre reativação mais rápida da economia, Bolsonaro busca desesperadamente ressuscitar o PT.

Quanto mais se escancara sua traição ao próprio povo, mais o presidente precisa posar de alternativa única a um mal maior.

Tanto que, quatro dias depois de avalizar Lula Livre, Bolsonaro recorreu até a Dilma Rousseff como uma espécie de antípoda emergencial:

“Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio-X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio-X.”

Gilmar Mendes e seu padrinho político FHC, Rodrigo Maia e seu candidato à sucessão, Baleia Rossi, além de Lula e da própria Dilma, claro, repudiaram a fala de Bolsonaro que pôs em dúvida a tortura da petista.

É por isso que o mesmo sistema corrupto que teme Moro adora Bolsonaro e que o presidente mereceu o prêmio internacional de “Personalidade do Ano” do crime organizado e da corrupção: ele garante a impunidade da esquerda, do velho tucanato, do Centrão e da família, enquanto suas cortinas de fumaça alopradas ainda permitem que os demais atores posem de democratas humanitários nesse teatro coletivo de rivalidades ideológicas e sinalizações de virtude.

Canastrice ‘ad aeternum’.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Empresário Luiz Galeazzi e família morreram na queda de avião em Gramado

Visualizar notícia
2

Gilmar Mendes participa até de inauguração de rodovia em MT

Visualizar notícia
3

Musk não será presidente porque não nasceu nos EUA, diz Trump

Visualizar notícia
4

Ponte entre Maranhão e Tocantins desaba e deixa mortos

Visualizar notícia
5

Trump: “Putin disse que quer se reunir comigo o mais rápido possível”

Visualizar notícia
6

Uma viagem interplanetária com o dólar

Visualizar notícia
7

Gramado cancela programação do Natal Luz após tragédia aérea

Visualizar notícia
8

Crusoé: Toffoli, don’t cut my connection

Visualizar notícia
9

Motorista de caminhão envolvido em acidente fugiu, diz PRF

Visualizar notícia
10

Advogado critica TPI por inação contra Maduro: “Impunidade enfraquece a Justiça”

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

"Podem revirar tudo, não irão achar nada", diz Sóstenes

Visualizar notícia
2

Real é a moeda que mais perdeu valor em 2024

Visualizar notícia
3

Wicked: Para Sempre - O que esperar da continuação do musical?

Visualizar notícia
4

J.K. Rowling celebra cinco anos de ativismo em defesa das mulheres

Visualizar notícia
5

Concurso Público do INSS: 250 vagas com salários até R$ 14 mil

Visualizar notícia
6

Meirelles nega narrativa do ataque especulativo

Visualizar notícia
7

Lobo-marinho "Joca" vira atração em Ipanema

Visualizar notícia
8

Réveillon Rio 2025: Ivete Sangalo, Anitta, Caetano e show de luzes inédito

Visualizar notícia
9

Crusoé: Bolsonaro tentou golpe? Resposta varia com eleitorado

Visualizar notícia
10

Golpes digitais nas festas de Fim de Ano: Como identificar e evitar armadilhas

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

corrupção Dilma Rousseff Gilmar Mendes impunidade Jair Bolsonaro Kassio Marques Lula rachadinha Sergio Moro STF STJ tortura
< Notícia Anterior

Bolsonaro veta trecho da LDO e permite contingenciamento de verbas para combater pandemia

01.01.2021 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Boletim A+: Prefeitos são empossados

01.01.2021 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Futuro do PSDB fica para março

Futuro do PSDB fica para março

Visualizar notícia
Golpes de Fim de Ano: O que você precisa saber para proteger suas compras e cartões

Golpes de Fim de Ano: O que você precisa saber para proteger suas compras e cartões

Visualizar notícia
Abono Salarial PIS/Pasep 23/12: Como consultar e sacar antes do prazo final

Abono Salarial PIS/Pasep 23/12: Como consultar e sacar antes do prazo final

Visualizar notícia
Vereador capta ao vivo o desabamento da ponto entre Tocantins e Maranhão

Vereador capta ao vivo o desabamento da ponto entre Tocantins e Maranhão

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.