Chocado com Bolsonaro
O filme "Nem Tudo se Desfaz", do cineasta bolsonarista Josias Teófilo, tem uma tese curiosa sobre o nosso antipresidente: ele provoca o escândalo e a perturbação que, em outras épocas, coube aos artistas despertar no homem médio. Hoje, sustenta o filme, depois de décadas de doutrinação na arte esquerdista, ninguém mais se espanta quando um ator/diretor como José Celso Martinez Corrêa aparece pelado, proferindo alguma blasfêmia. O que choca de verdade os espíritos convencionais é Jair Bolsonaro...
O filme “Nem Tudo se Desfaz”, do cineasta bolsonarista Josias Teófilo, tem uma tese curiosa sobre o nosso antipresidente: ele provoca o escândalo e a perturbação que, em outras épocas, coube aos artistas despertar no homem médio. Hoje, sustenta o filme, depois de décadas de doutrinação na arte esquerdista, ninguém mais se espanta quando um ator/diretor como José Celso Martinez Corrêa aparece pelado, proferindo alguma blasfêmia. O que choca de verdade os espíritos convencionais é Jair Bolsonaro (foto).
Lembrei dessa apreciação estética do nosso mandatário ao assistir o vídeo que um de seus assessores postou hoje nas redes sociais. Nele, Bolsonaro se diverte na traseira de uma lancha cercada de jet skis, na companhia de uma “galera”, enquanto um funk em sua homenagem toca a todo volume.
Confesso que fiquei boquiaberto. Como os “temperamentos regulares”, como a “geleia pasma” de quem o modernista Mario de Andrade zombava em sua “Ode ao burguês”, eu me dei conta, mais uma vez, que é importante para mim que o homem que ocupa a Presidência da República tenha alguma compostura e não seja tão inapelavelmente grotesco.
Segundo o assessor de Bolsonaro, as imagens demonstram que ele não está nem um pouco preocupado com o jantar que reuniu Lula e Geraldo Alckmin neste domingo – ambos prováveis companheiros numa chapa que deve enfrentá-lo nas eleições do ano que vem.
De fato, Bolsonaro não parece preocupado. Nem com os adversários, nem com qualquer outra coisa. Ele dança, dá risada, faz mímicas. Aponta o próprio sovaco quando a música diz que “mulher de esquerda tem mais pelo que cadela”.
Dirão os bolsonaristas, como aqueles que rebolam no vídeo ao redor do infame: “Quer dizer então que o presidente não pode descansar no fim do ano? Não pode brincar um pouco, para descontrair?”
Francamente. O que um presidente não pode é ser tão debochado. Ele não pode se descolar tão completa e despudoradamente da realidade que o cerca, num país onde milhões de pessoas terão um Natal magro; onde 69% dos eleitores acreditam que a economia está no caminho errado, segundo a pesquisa divulgada hoje pelo Ipespe, e por isso têm medo do futuro.
Tudo no vídeo de Bolsonaro é ofensivo: os gestos, a música, os símbolos estúpidos de ostentação que são a lancha e os jet skis. Josias Teófilo tem razão. José Celso não me espanta. Mesmo depois de quatro anos, mesmo depois de tudo que Jair Bolsonaro já disse e já fez, é a sua incompatibilidade absoluta com a Presidência que ainda agride como um tapa e continua a me escandalizar.
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