É para valer, Moro?
Em apenas um fim de semana, Sergio Moro foi alvo de duas fake news e ainda recebeu recados malcriados de ministro do Supremo, por meio da imprensa. Como registramos, a Veja disse que Gilmar Mendes "vai bater em Moro no momento oportuno". Depois, publicou que o ex-juiz ficou milionário trabalhando no mercado privado -- como se houvesse algum crime nisso...
Em apenas um fim de semana, Sergio Moro foi alvo de duas fake news e ainda recebeu recados malcriados de ministro do Supremo, por meio da imprensa.
Como registramos, a Veja disse que Gilmar Mendes “vai bater em Moro no momento oportuno”. Depois, publicou que o ex-juiz ficou milionário trabalhando no mercado privado — como se houvesse algum crime nisso, no caso de ser verdade.
Ainda no domingo, Jair Bolsonaro também espalhou a mentira de que Deltan Dallagnol o teria procurado para tentar ser PGR e ainda recomendou o compartilhamento de um vídeo repleto de fake news de um blogueiro sujo e com bigodinho suspeito.
Nos grupos de WhatsApp, já circula também a informação de que Augusto Aras vai enquadrar Moro por denunciação caluniosa. E isso não é nada comparado com o que está por vir.
A desinformação e a destruição de reputações compõem hoje o principal arsenal eleitoral de petistas e bolsonaristas, que veem em Moro o inimigo comum a ser abatido. No Podemos, a ficha ainda não caiu.
Na semana passada, o ex-juiz foi bater à porta de Nizan Guanaes, que rejeitou polidamente o convite para tocar a campanha morista. O publicitário já recusou convites de outros pré-candidatos, talvez pelo temor de fracassar, como ocorre com seu conterrâneo João Santana, hoje incapaz de transformar Ciro Gomes num candidato palatável.
Em tempos de internet, redes sociais e aplicativos de mensagens, a figura do marqueteiro deu lugar à do estrategista-chefe, à la Steve Bannon. As ferramentas tecnológicas obviamente estão disponíveis para uma campanha limpa também.
Não basta responder no Twitter, é preciso saber disseminar o conteúdo para alcançar o eleitor. A militância espontânea, que dá relevância a Moro nas redes sociais, também está abandonada.
A campanha de Moro parece não entender isso e outras coisinhas. Tenta justificar que ele se filiou há pouco mais de 1 mês, como se o partido não tivesse que se preparar com antecedência.
Para se ter uma ideia, em outubro de 2017, quando fiz minha primeira entrevista com Jair Bolsonaro, o então pré-candidato já era recebido em aeroportos aos gritos de “mito” por apoiadores organizados, entre eles associações de policiais, bombeiros e até pelo MBL.
Em novembro daquele ano, o então deputado federal do baixo clero já tinha entre 13% e 15% das intenções de voto, enquanto Lula liderava com média de 35%.
O problema vai além da falta de estratégia e de estrutura para lidar com as fake news da concorrência, a campanha de Moro também peca de forma amadora na interlocução com a imprensa.
Como suas agendas não são divulgadas e nem registradas para posterior divulgação, raramente as redações conseguem enviar repórteres para acompanhar o pré-candidato, o que significa jogar no lixo uma publicidade espontânea indispensável para quem ainda tenta se tornar um “político” conhecido.
O desastre inclui questões básicas, como a ausência de uma assessoria que cuide da imagem diária do candidato, que usa a mesma muda de roupa na visita à favela e no jantar com empresários em São Paulo.
A coordenação política também não funciona direito, pois gasta o tempo de Moro em agendas que só teriam sentido no meio da campanha, lá por agosto e setembro. O ex-juiz poderia estar aproveitando melhor seu tempo com media training, ganhando confiança no vídeo e estudando debates e as fragilidades de seus concorrentes.
Moro conquistou rapidamente um bom espaço na Terceira Via, mas nada garante que conseguirá mantê-lo, caso outros (as) candidatos (as) entrem no circuito. Tampouco se pode subestimar o impacto das fake news na imagem já arranhada do ex-juiz.
Diante deste cenário, começo a me questionar se a candidatura de Sergio Moro é para valer.
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