É preciso comer Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro, com a graça e elegância que lhe são próprias, disse hoje àquela gente pitoresca que se acotovela na saída do Palácio da Alvorada que ele é "'imorrível", "imbrochável" e "incomível"...
Jair Bolsonaro, com a graça e elegância que lhe são próprias, disse hoje àquela gente pitoresca que se acotovela na saída do Palácio da Alvorada que ele é “‘imorrível”, “imbrochável” e “incomível”. Bolsonaro quis bancar o impagável apenas no sentido da comicidade, visto que no outro já não aparenta ser faz tempo, mas é mesmo intragável.
Ele, no entanto, tem razão: permanecerá “incomível” até 2022, se a CPI da Covid não recomendar a abertura imediata do processo de impeachment. O simples envio das provas obtidas pelos senadores ao Ministério Público, para abertura de investigações criminais, não basta. É preciso que a CPI resulte em processo político sumário, sob pena de Jair Bolsonaro continuar sabotando o combate à pandemia. Hoje, por exemplo, ele chamou de “idiotas” quem recomenda às pessoas para ficar em casa, sob o falso argumento de que as medidas de combate à pandemia são ruins para a economia, quando são justamente o contrário: ajudam a que as atividades sejam retomadas com mais segurança e mais rapidamente.
Já existem provas abundantes de que Jair Bolsonaro atentou contra a saúde pública. O depoimento do presidente regional da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, à CPI da Covid foi por si só devastador. Cerca de 3,5 milhões de brasileiros a mais poderiam ter sido vacinados com o imunizante do laboratório americano até o final de junho, se o governo não tivesse sido ignorado cinco propostas da Pfizer feitas em 2020. Num cálculo muito conservador, feito pelo epidemiologista Pedro Hallal, pelo menos 14 mil cidadãos teriam sobrevivido à doença, caso Jair Bolsonaro e seus cúmplices tivessem aceitado a oferta.
Todos os fatos já elencados são suficientes para o início de um processo de impeachment que independe do trabalho a ser feito pelo Ministério Público, ao final da CPI da Covid. Para além de Jair Bolsonaro insistir em sabotar as medidas restritivas, ele deliberadamente não quis evitar a contaminação e morte de milhares de brasileiros. Ao que tudo indica, buscou — e busca — a propalada “imunidade de rebanho” por meio do sacrifício de vidas. Matar deliberadamente um povo é genocídio. Sou cuidadoso com as palavras, mas acredito que a tipificação do crime vai muito além da desídia: existiu — e ainda existe — a intenção de matar em massa uma determinada população. A nossa.
Senadores e deputados fazem cálculo eleitoreiro ao deixar o carniceiro no Planalto. O pretexto de que não daria tempo para o impeachment é falso. A desculpa de que o impeachment tumultuaria ainda mais o ambiente no país é imoral. Trata-se de iniquidade deixar Jair Bolsonaro sangrando na Presidência da República, como se o sangue fosse apenas o metafórico, não o real das vítimas da Covid. A imoralidade é absoluta e os parlamentares serão cúmplices dela se nada fizerem de concreto para tirar de cena personagem tão abjeto. É preciso comer Jair Bolsonaro. Não em 2022, mas agora.
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