O bom senso antissistema

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O bom senso antissistema

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Claudio Dantas
5 minutos de leitura 10.11.2021 15:36 comentários
Opinião

O bom senso antissistema

Sergio Moro surpreendeu positivamente em seu primeiro discurso público como pré-candidato. Sim, ele já está em campanha para a Presidência da República, não para o Senado como querem tucanos e bolsonaristas -- os petistas querem vê-lo preso, a propósito. Exceto por alguns ajustes sugeridos pela esposa Rosângela e assessores mais próximos, foi o próprio Moro quem escreveu o texto, lido no ato de filiação ao Podemos...

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Claudio Dantas
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O bom senso antissistema
Foto: Rodrigo Freitas/O Antagonista

Sergio Moro surpreendeu positivamente em seu primeiro discurso público como pré-candidato. Sim, ele já está em campanha para a Presidência da República, não para o Senado como querem tucanos e bolsonaristas — os petistas querem vê-lo preso, a propósito. Exceto por alguns ajustes sugeridos pela esposa Rosângela e assessores mais próximos, foi o próprio Moro quem escreveu o texto, lido no ato de filiação ao Podemos.

A cerimônia em si deixou a desejar, com erros técnicos e falhas de cerimonial, confirmando minha impressão sobre a falta de estrutura da legenda para levar uma campanha presidencial até o fim. Mas há tempo para ajustes.

Demonstrando firmeza, sem ser agressivo, o ex-juiz enviou recados a todos os rivais e transformou seus pontos fracos em ativo político, seguindo o manual do marketing político.

“Não tenho uma carreira política e não sou treinado em discursos políticos (…) o Brasil não precisa de líderes que tenham voz bonita. O Brasil precisa de líderes que ouçam a voz do povo brasileiro”, disse, logo no início.

Como reza a cartilha eleitoral, especialmente em tempos de mídias sociais e informação descentralizada, Moro aposta na autenticidade e reforça a impressão de que não será um candidato domável. Não vestirá, portanto, o figurino “paz e amor” para ser aceito no debate.

Antes, usará a campanha para defender o legado da Lava Jato e sua própria biografia. “Eu sempre fui considerado um juiz firme e fiz justiça na forma da Lei”, afirmou, ao enaltecer os números da operação — que recuperou R$ 4 bilhões e ainda deve resgatar mais R$ 10 bilhões desviados dos cofres públicos. “Isso nunca aconteceu antes no Brasil.”

Isso ficou bem claro ao repetir que foi “boicotado” pelo governo Bolsonaro quando ministro da Justiça. “Continuar como ministro seria apenas uma farsa. Nenhum cargo vale a sua alma.”

Também ficou evidente que, para o ex-juiz, todas as mazelas (ou quase todas) do Brasil decorrem da absoluta ausência de moralidade pública, da corrupção entranhada nas estruturas, de uma máquina que não serve à sociedade, mas a um pequeno grupo de privilegiados que a ocupam.

“Precisamos falar sobre corrupção. Muitos me aconselharam a não falar sobre o assunto, mas isso é impossível (…) Está tudo conectado (…) Todo mundo sabe que o dinheiro desviado é o hospital e a escola sucateadas (…) As estruturas do poder foram capturadas. A busca do interesse público foi substituída pela busca egoísta dos interesses próprios e dos interesses pessoais e partidários.”

Com a ideia de ser o legítimo candidato antissistema, Moro lança mão da fórmula de sucesso que elegeu Lula em 2002 e Bolsonaro em 2018. Mas promete não repetir o estelionato dos antecessores, seus rivais. “Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha. Chega de emendas secretas! Chega de querer levar vantagem em tudo e enganar a população.”

Inspirado no modelo de força-tarefa da Lava Jato, o ex-juiz também promete oxigenar o debate com ideias concretas, e até inovadoras, para lidar com problemas antigos. Disse que, caso eleito, montará uma “Força-Tarefa de Erradicação da Pobreza”espécie de agência independente formada por servidores e especialistas. E criará uma “corte nacional anticorrupção”.

Moro também escapou da armadilha do discurso identitário, que domina o debate público sobre inclusão. “Somos todos irmãos, amigos e vizinhos”, disse, prometendo um governo “para todos” e não só para a militância barulhenta. De forma estratégica, acenou para as Forças Armadas (“pertencem aos brasileiros, não ao governo”), defendeu o meio ambiente (“o Brasil pode ser não só o celeiro do mundo, mas também a liderança e o exemplo na preservação da floresta”) e o livre mercado (“precisamos abrir e modernizar nossa economia”) com solidariedade e compaixão.

Diante de políticos de diferentes legendas, como União Brasil e Novo, Moro aproveitou para expor suas precondições para futuras alianças, citando o necessário compromisso com a volta da prisão em segunda instância, com o fim do foro privilegiado e da reeleição para o Executivo.

O novo e mais célebre filiado do Podemos, porém, pecou ao não direcionar palavras e gestos às lideranças dispostas a encampar sua candidatura até o fim, como prevê o protocolo de eventos partidários. Acostumado à letra fria da lei, Moro ainda precisa dominar os códigos do mundo político, a fim de agregar aliados necessários para aquela que promete ser a luta mais difícil de sua vida.

 

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Claudio Dantas

Claudio Dantas é diretor-geral de Jornalismo de O Antagonista. Com mais de duas décadas cobrindo o poder, já atuou nas redações de EFE, Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e IstoÉ. Ganhou os prêmios Esso, Embratel e Direitos Humanos. Está entre os jornalistas mais influentes do Twitter e venceu três vezes o iBest de melhor veículo de política.

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