O foco é o aúdio, o áudio, o áudio O foco é o aúdio, o áudio, o áudio
O Antagonista

O foco é o aúdio, o áudio, o áudio

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Mario Sabino
4 minutos de leitura 05.07.2021 17:57 comentários
Opinião

O foco é o aúdio, o áudio, o áudio

Não se deixe levar pela moldura, a única coisa que interessa é o quadro. O quadro é a possível existência da gravação da conversa entre o deputado Luis Miranda, o irmão dele, Luis Ricardo, funcionário do Ministério da Saúde, e Jair Bolsonaro. Nela, como revelou O Antagonista, ambos alertaram o presidente da República sobre o esquema de corrupção em andamento na compra da vacina indiana Covaxin pelo governo federal. Luis Miranda disse à CPI da Covid que, ao ouvir o relato, Jair Bolsonaro disse que aquilo era "coisa de Ricardo Barros", o líder do governo, prometeu acionar a Polícia Federal para investigar o assunto -- e nada fez...

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Mario Sabino
4 minutos de leitura 05.07.2021 17:57 comentários 0
O foco é o aúdio, o áudio, o áudio
Reprodução/Tv Senado

Não se deixe levar pela moldura, a única coisa que interessa é o quadro. O quadro é a possível existência da gravação da conversa entre o deputado Luis Miranda, o irmão dele, Luis Ricardo, funcionário do Ministério da Saúde, e Jair Bolsonaro. Na conversa, como revelou O Antagonista, ambos alertaram o presidente da República sobre o esquema de corrupção em andamento na compra da vacina indiana Covaxin pelo governo federal. Luis Miranda disse à CPI da Covid que, ao ouvir o relato, Jair Bolsonaro disse que aquilo era “coisa de Ricardo Barros”, o líder do governo, prometeu acionar a Polícia Federal para investigar o assunto — e nada fez.

Mais: a Crusoé revelou que Ricardo Barros estava presente na casa do lobista Silvio Assis, onde Luis Miranda reuniu-se com ambos depois de ter denunciado o esquema ao presidente da República. À saída da casa, o lobista propôs, segundo o deputado, o pagamento de propina a Luis Miranda, para que ele e o irmão deixassem de embarreirar a compra da Covaxin. A oferta teria sido de 6 centavos de dólar por cada uma das 20 milhões de doses comercializadas. Ou seja, Luis Miranda levaria 1,2 milhão de dólares.

Desde então, os cidadãos vêm sendo bombardeados com reportagens sobre outros supostos casos de corrupção — e a CPI da Covid chegou a ser palco, na semana passada, daquele espetáculo vexaminoso protagonizado pelo PM Luiz Paulo Dominguetti, apresentado pelos jornais como representante de uma empresa que estaria operando um esquema de intermediação na compra pelo Ministério da Saúde de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca, numa história muito mal contada, mas que ganhou as manchetes. Os senadores logo se deram conta de que o improvável Dominguetti foi plantado na CPI para desviar a atenção da denúncia de Luis Miranda e desqualificá-lo como participante desse segundo esquema, o que o deputado nega.

A falta de editores na imprensa brasileira — os profissionais que deveriam separar o joio do trigo, publicar o trigo, não o joio, e preocupar-se mais com o quadro e menos com a moldura — não pode, contudo, levar a que se perca o foco: passados dez dias da revelação feita por Luis Miranda à CPI da Covid de que Ricardo Barros foi o político citado pelo presidente da República na reunião na qual ele e o irmão denunciaram o esquema na compra da Covaxin, o presidente da República não desmentiu o deputado. Foi em entrevista exclusiva a O Antagonista que Luis Miranda sugeriu que Jair Bolsonaro havia sido gravado por ele e o irmão. Dias depois,  Omar Aziz, presidente da CPI da Covid, deixou claro também a este site que, para ele, não há dúvida de que o áudio existe.  Em entrevista à Cultura, ontem, Omar Aziz voltou à carga: “Nenhum servidor federal foi acionado pelo presidente após a denúncia do deputado Luis Miranda para fazer qualquer tipo de investigação. Se tive sido (mentira), pode ter certeza que o presidente já teria chamado Miranda de mentiroso, cafajeste, vagabundo e picareta. Essa é a forma como ele trata as pessoas que se opõem a ele ou (lhe) tentam imputar alguma coisa”.

Se gravação houver e vier à tona, ficará evidente o crime de prevaricação do presidente da República. E certamente as relações dele com Ricardo Barros, líder do governo e um dos expoentes do Centrão, dificilmente continuarão nas mesmas bases, com consequências irremediáveis para a manutenção do apoio a Jair Bolsonaro na Câmara. Mas a divulgação da eventual gravação poderá trazer à tona que Ricardo Barros talvez não tenha sido o único político citado pelo presidente da República como suposto corrupto beneficiado na aquisição da Covaxin. Se Jair Bolsonaro citou outros políticos, isso significará o agravamento do crime de prevaricação e uma crise da qual a saída seria unicamente o impeachment — inclusive porque seria do interesse dos demais implicados tentar empurrar o escândalo para cima.

É bastante provável, portanto, que Luis Miranda esteja sendo cortejado pelo Palácio do Planalto, digamos assim, para não mostrar a gravação da conversa que manteve com o presidente da República. Atenção ao quadro, esqueçam a moldura.

O foco é o áudio, o áudio, o áudio.

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Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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